Redação da FUVEST aborda papel da ciência no mundo contemporâneo

Luciano Queiroz

As redações dos grandes vestibulares brasileiros sempre são temas de discussão na mídia, nas escolas e cursinhos pré-vestibulares. E esse ano não foi diferente, a redação da FUVEST, vestibular para as principais universidades do estado de São Paulo, teve como tema “o papel da ciência no mundo contemporâneo”.

Nem de longe é um assunto que gera muita polêmica, mas é sim um assunto importante e atual. Depois de um 2019 particularmente difícil para ciência brasileira, quando recursos das universidades federais foram cortados, salários de cientistas congelados (bolsas de pós-graduação), lançamento do Future-se – um projeto que tem como claro objetivo reduzir a autonomia das universidades – pelo governo federal, uma fusão iminente entre dois importantes órgãos de gestão e financiamento da nossa ciência e educação superior (CNPq e CAPES) e para fechar o ano, uma medida provisória que retira da comunidade universitária seu direito de escolher quem serão seus gestores.   

Se você leu alguma notícia sobre o tema da redação da FUVEST, talvez tenha percebido que a minha análise foi bem diferente da análise dos professores consultados nas matérias. Eles focaram em fake news, teorias conspiratórios como terraplanismo e movimentos antivacina. Não que esses temas sejam menos importantes em minha análise, mas é difícil discutir o papel da ciência quando nosso próprio governo produz fake news e teorias conspiratórias com o único objetivo de enfraquecer nossos centros de produção de conhecimento e formação de senso crítico.

O que foi colocado em curso no Brasil em 2019 e continuará sendo implantado de forma autoritária é o questionamento sistemático a qualquer tipo de conhecimento que questione as crenças do atual governo. Não podemos nos esquecer que para eles, não há desmatamento na Amazônia, os dados produzidos pelo INPE são fake news encomendados por ONGs e existem plantações de maconha nas universidades federais. Só para deixar ainda mais claro e evitar qualquer mal entendido: nosso governo mente quase sempre quando o assunto é ciência, meio ambiente e educação.

O tema da redação da FUVEST vem em boa hora. Precisamos discutir de forma aberta e democrática o que está sendo feito com a nossa ciência e como vamos atuar para aproximar a sociedade das nossas universidades, tornar a comunidade acadêmica um ente coeso e assim pautar as discussões nacionais sobre ciência.