Há algum tempo iniciei um grupo de estudos com os colegas de trabalho, nada oficial, apenas chamei alguns professores para debater artigos científicos logo antes do expediente. O primeiro assunto que tratamos foi relativo aos critérios que nos faziam escolher alongamentos. Apresentei portanto o trabalho de Shrier (2004), que fez uma excelente revisão de literatura sobre o tema, e trouxe esse tema para cá também para expandi-lo.
Em seu artigo Shier faz uma revisão de literatura via Pubmed e SportDiscus, usou apenas estudos de design Cross-Over, Repeated Measures e Randomized Controled Trial, separou os métodos dos artigos revisados por efeito (agudo e crônico) e sempre mensurados em relação aos grupos controle ou pré alongamento.
Se os termos acima não lhe são familiares aconselho fortemente que pesquise-os, mas oportunamente publicarei sobre bioestatística e explorarei os delineamentos experimentais.
Shrier descreve entre os artigos revisados 23 estudos de efeito agudo (até 60 minutos de alongamento) e 9 de efeitos crônicos (efeitos de dias ou semanas de alongamento) mostrando sua influência na melhoria de performance pela altura de salto, contração voluntária máxima (força máxima) e torque isocinético (força para cada grau de movimento).
Ele ainda fala de alguns estudos controversos como os 2 de corrida encontrados cada um mostrando efeitos contrários ao outro, valendo a pena ler estes separadamente (e quem sabe trazer esse tema separado para o blog), e um estudo com resultados publicados em 2 artigos (prática malvista na comunidade científica, vale dizer).
Nas variáveis citadas a maior parte dos artigos mostra perda de desempenho quando os testes eram realizados de maneira aguda. Estas perdas estavam próximas de 10% em maioria, com o pior resultado em quase 30% e um artigo mostrando melhorias de cerca de 3%. Olhando para o torque isocinético os resultados se repetem mostrando cerca de 3% a 11% de perda de desempenho, sendo que no estudo de Nelson (2004), que realizou os testes em diversas velocidades, concluiu-se que  quanto mais lenta a contração maior era o efeito deletério do alongamento.
Os saltos não contam uma história diferente, tanto saltos estáticos quando saltos com contramovimento (aproveitando o movimento de descer rapidamente) foram afetados negativamente pelo alongamento. Os prejuízos vão até 9% da altura de salto evidenciados em 8 artigos.
Mas o alongamento não é o vilão que parece, pois esse quadro começa a mudar quando vemos os resultados da pesquisa de Shrier para o efeito crônico do alongamento. A começar pela Força máxima que tem até 10% de melhoria com protocolos de Facilitação Neural Proprioceptiva (FNP) e até 5% em protocolos com alongamento estático.
O mesmo ocorre para o torque isocinético dessa vez com melhorias de até 20% da performance quando em velocidades baixas (menores que 180º/s). Embora na média os resultados fiquem mais próximos de 10% de melhoria.
A explicação para os prejuízos de força pós alongamento ficam com conta dos danos musculares causados pelo alongamento e perda de stiffness (“dureza” ou “rigidez” numa tradução livre) muscular. Já o bom desempenho da força no longo prazo pode ter-se dado por hipertrofia causada por microlesões na hipótese levantada pelo autor.
Assim concluindo podemos tomar por recomendação não realizar treinos de flexibilidade, ou seja sessões de alongamento forte antes do treino de força ou potência, já que estas estariam prejudicadas nesse momento, gerando riscos articulares, posto que a estabilização ativa para movimentos de maior carga estaria também prejudicada. Ao mesmo tempo vale salientar que o ganho de flexibilidade melhora a amplitude de movimento e pode gerar algum ganho em hipertrofia para o músculo alongado, assim no longo prazo se mostra importante para o praticante.
Referências
Shrier I. Does stretching improve performance? A systematic and critical review of the literature. Clin J Sport Med 2004; 14 (5): 267-73
 
Nelson AG, Driscoll NM, Landin DK, et al. Acute effects of passive muscle stretching on sprint performance.J Sports Sci. 2004