Qual foi o impacto dos cortes de bolsas em 2019?
8% das bolsas de pós-graduação foram cortadas em 2019, sendo a região nordeste a mais impactada
Acredito que não preciso falar muito sobre os cortes de bolsas realizados no ano passado. Gravei vídeos, podcast e na primeira coluna do ano fiz um pequeno resumo. No dia 17 de fevereiro a Folha publicou a matéria “Impacto de cortes de bolsas da Capes foi maior no Nordeste” escrita pelo jornalista Paulo Saldaña. Pela primeira vez tivemos dados oficiais sobre os cortes de bolsas.
Foram cortadas um total de 7.590 bolsas. E aqui vale ressaltar: as bolsas de pós-graduação são a única renda da maioria dos cientistas em formação no Brasil. As bolsas são nossos salários e, diferente do salário mínimo, não são reajustadas desde 2013.
Este corte representa 8% do total de bolsas implementadas em 2018. Passamos de 92.253 para 85.138 bolsas implementadas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Sendo que, proporcionalmente, as universidades do nordeste sofreram os maiores cortes (12%).
Me lembro como se fosse ontem, estava no meio de uma aula de genômica evolutiva, seriam apenas duas semanas de aula, quando recebi a notícia dos primeiros cortes. Não consegui mais prestar atenção em nenhuma aula até o fim do curso, era o tempo todo ajudando na organização dos atos, tentando mobilizar os pós-graduandos para ir para rua e felizmente o professor cancelou a aula que seria no dia 15 de maio (#15M).
Ninguém entendeu as justificativas dadas pelo o governo para aqueles cortes. Eles simplesmente cortaram as bolsas que iriam para novos alunos do programas, muitos dos quais já tinham passado pelo processo de seleção e enviado seus documentos para implementação da bolsa. Imagina que você faz uma entrevista de emprego, passa em todas as etapas e quando vão te contratar a pessoa do RH chega e fala, “olha, infelizmente não temos o dinheiro para pagar seu salário, mas se você quiser, você pode trabalhar assim mesmo”. Foi isso que aconteceu.
O governo continua insistindo na argumentação mentirosa de que as bolsas não foram cortadas. Foi corte sim! Uma coisa importante de entendermos, principalmente se você não for do meio acadêmico, é que as bolsas são vinculadas a uma unidade. Quando um pós-graduando defende seu mestrado ou doutorado, a bolsa é transferida para a próxima pessoa da lista. Quanto o governo corta essa bolsa, ele impede que um futuro cientista tenha a oportunidade de realizar seu trabalho com o mínimo necessário.
O governo Bolsonaro tem um plano claro de desmonte das universidades públicas, da ciência e de qualquer forma de conhecimento que discorde do que eles acreditam. Nós apresentamos nossas argumentações, mas, sinceramente, não adianta muita coisa. Desculpa te contar isso de forma tão direta.
A única forma de impedirmos isso é retirando-os do poder. Devemos nos organizar como sociedade e isso passa pelo diálogo com aquele seu tio ou vizinho que votou no Bolsonaro. Por fim, temos que eleger políticos que apresentem um projeto de avanço para o Brasil, porque de retrocesso já tivemos um ano e ainda teremos outros três.