Qual o problema de termos um criacionista na Capes?

Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Mackenzie e defensor do criacionismo é nomeado novo presidente da Capes

Luciano Queiroz

Na sexta-feira (24/01) o ex-reitor da Mackenzie Benedito Guimarães Aguiar Neto foi nomeado como novo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes).

Já falei aqui sobre a bagunça que virou o Ministério da Educação (MEC) sob a gestão de Abraham Weintraub. O ex-presidente da Capes, Anderson Ribeiro Correia, percebeu isso e resolveu sair o quanto antes. Se candidatou à reitoria do ITA e foi eleito, deixando o principal órgão de financiamento e gestão da pós-graduação brasileira.

Agora a Capes será comandada pelo ex-reitor da Mackenzie, uma universidade privada ligada a Igreja Presbiteriana. 

Qual o problema disso? Nenhum. 

A Mackenzie é uma excelente instituição de ensino, possui profissionais de grande qualidade e está entre as principais universidades do Brasil. Também não é o fato do Aguiar Neto ter sido reitor da Mackenzie por nove anos, alguma qualidade como gestor na área de educação superior ele deve ter.

O problema é que Aguiar Neto é um defensor declarado do criacionismo ou design inteligente – um nome aparentemente mais científico para essa linha de pensamento (O Dragões de Garagem fez um excelente episódio sobre o assunto).

Em 2017 Aguiar Neto apoiou a criação do núcleo de ciência, fé e sociedade na Mackenzie tendo como um dos objetivos o estudo do design inteligente (DI). O núcleo foi batizado de Núcleo Mackenzie-Discovery, devido sua ligação ao Discovery Institute dos EUA – um dos principais defensores do DI.

No ano seguinte a Mackenzie anunciou que iria ampliar os estudos sobre DI e sediou um congresso sobre o assunto. Na ocasião Aguiar Neto disse, “queremos colocar um contraponto à teoria da evolução e disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”.

Um contraponto à teoria da evolução se faz com ciência e não com religião. O criacionismo tenta incorporar termos científicos com o objetivo de se passar por ciência, mas falham gravemente nisso. 

Exatamente pelo fato de religião não ser ciência e não precisa ser ciência. Religião é uma questão de fé e devido a própria natureza da fé, não é possível se testar a existência de um designer inteligente. Além disso, diversos cientistas são religiosos e isso não influencia na qualidade da ciência que produzem.

O fato do presidente da Capes, o maior órgão de gestão e financiamento da ciência brasileira, defender abertamente o design inteligente é grave. Mas o que realmente devemos ficar atentos é a influência política de uma parcela da comunidade evangélica no atual governo e na política brasileira como um todo.