No final do mês de junho foi lançada a campanha “Conhecimento sem Cortes”, seu objetivo é expor à sociedade a quantidade de recursos perdidos pela ciência brasileira desde 2015. Estima-se um valor de 500 mil reais por hora. A atualização constante desse total pode ser acompanhado pelo “Tesourômetro” no site ou de forma física nos painéis instalados no campus da UFRJ na Praia Vermelha, no campus da Pampulha na UFMG em Belo Horizonte e na Asa Sul do Plano Piloto em Brasília (lançamento 09 de agosto).
A ciência brasileira vem passando por um momento extremamente complicado. Após experimentar uma fase de aumento de investimentos nas diversas áreas da ciência e em todas as regiões do país entre 2002 e 2013, esses investimentos começaram a diminuir. O que se justifica pelo momento de crise econômica que o país está passando e intensificado pela crise política. Os cortes também se intensificaram a partir de 2016 com a mudança do governo, fusão do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) com as Comunicações e rebaixamento do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico) e outras agências governamentais.
O corte que causou mais espanto na sociedade científica brasileira ocorreu no início de 2017, 44% do orçamento aprovado para o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) foi cortado do dia para noite. O valor aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA) era de aproximadamente R$ 5 bilhões, com esse corte, R$ 2,2 bilhões foram contingenciados, ou seja, não se pode gastar. O orçamento de 2017 para CTI é o menor dos últimos 12 anos.
Os cortes já começaram a surtir efeitos, vários cientistas brasileiros estão deixando o país em busca de melhores condições de trabalho (link1 e link2), projetos estão sendo interrompidos (link) e, recentemente, o CNPq anunciou que seus recursos para pagamento de bolsas e projetos, já aprovados, acabou (vídeo do Notícias da Garagem sobre o assunto).
A campanha “Conhecimento sem Cortes” é uma forma de reação da comunidade científica para mostrar o que está acontecendo. Apesar disso, a comunicação interna, entre os cientistas, continua a desejar. Para que uma campanha como essa alcance uma boa parcela da sociedade, é necessária maior comunicação entre os diversos setores da ciência: docentes, estudantes, divulgadores e jornalistas nas diversas mídias, online e offline.
O Dragões de Garagem, como um meio de comunicação científica, sempre esteve à disposição da comunidade científica brasileira informando e procurando aproximá-la da sociedade. Sendo assim, a partir desse momento, será vinculada uma inserção divulgando a campanha “Conhecimento sem Cortes” no início dos programas.
Caso as políticas científicas continuem se encaminhando dessa forma, o futuro da ciência no Brasil estará completamente comprometido. O esforço é necessário e todos devem ajudar.
Assine a petição do Conhecimento sem Cortes contra o desmonte que ameaça a ciência brasileira.
Luciano Queiroz, criador do podcast Dragões de Garagem, doutorando em Microbiologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente extremamente inquieto em relação à política brasileira.