Durante nosso período escolar (fundamental e médio) estudamos um tópico chamado evolução. Damos pouca importância para ela e na maioria das vezes saímos da escola com a ideia de que evolução é o macaco virando o ser humano ou de que a girafa tem o pescoço comprido porque o esticou para alcançar folhas mais altas nas árvores. Apesar de essas ideias estarem erradas, não se preocupe, evolução é mais fácil do que parece. As 7 razões que irei apresentar serão ótimas para ilustrar como a evolução funciona e porque devemos entendê-la.

1) O problema dos antibióticos

Quem nunca teve uma infecção qualquer e acabou tendo que tomar antibiótico durante 21 dias? Os antibióticos nada mais são do que compostos químicos que afetam bactérias, fungos ou protozoários desestabilizando e os levando a morte. Mas poxa vida, isso é ótimo! Aí que vem o problema: começamos a utilizar antibióticos para tratar qualquer tipo de doença, inclusive doenças causadas por vírus, as quais os antibióticos não possuem efeito nenhum. Esse uso indiscriminado nos levou a um dos maiores problemas que teremos que enfrentar no futuro próximo, os micro-organismos estão criando resistência aos nossos antibióticos.

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Olé!!! Olé!!! Esse antibiótico não está com nada.

Micro-organismos sofrem mutações, mudanças na informação contida em seu DNA, com uma frequência maior do que nós, seres humanos. Além disso, eles podem trocar essa informação entre eles. Então, imagine que você tomou um antibiótico para tratar de uma infecção de garganta, você matou todos os micro-organismos que viviam no seu estomago, menos um que possuía resistência ao antibiótico tomado. Assim que você parar de tomar o antibiótico, novos micro-organismos irão colonizá-lo, aquela sobrevivente estará lá e existe uma chance de que ela passe essa resistência para as outras que estão chegando agora. Na próxima vez que você tomar um antibiótico, ao invés de um sobrevivente, poderão ser dois. Sendo assim, é importante você saber como os antibióticos funcionam e como eles afetam os micro-organismos antes de decidir se você deve ou não tomar antibióticos.

2) A importância das vacinas

Por que tomamos vacinas? Provavelmente a resposta que você ouviu foi “para não ficarmos doentes”. Essa reposta faz sentido, mas está incompleta porque podemos nos perguntar “o que causa a doença?”, “por que a vacina não nos deixa ficar doentes?”, “o que a vacina ‘faz’ para não ficarmos doentes?”. As vacinas são feitas de substâncias pertencentes ao agente causador da doença, vírus ou bactérias, essas substâncias não irão causar a doença em si, mas irão alertar nosso sistema imunológico de um invasor. Ele será combatido e criaremos resistência a uma determinada doença. Por exemplo, a poliomielite. Todos nós tomamos a vacina contra a poliomielite quando éramos crianças, nosso sistema imunológico criou resistência ao vírus e, consequentemente, não pegamos a doença. Você já soube de alguém que teve poliomielite? Provavelmente não, porque ela foi erradicada no Brasil em 1989.

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Faz sentido, mas tome a vacina mesmo não acreditando. 😉

Mas pera aí, cadê a evolução? Está no fato de compreendermos como os vírus e bactérias funcionam, em saber como eles nos infectam e qual estrutura deles podemos utilizar para induzir nossos corpos a criar resistência contra eles correndo menos riscos. Se não soubéssemos como os seres vivos evoluem não saberíamos como criar as vacinas.

3) Porque os fósseis existem

Os fósseis existem e está diretamente relacionado à evolução. Os fósseis são qualquer traço de vida do passado, carapaças, ossos, conchas ou dentes. Os fósseis nos mostram como a vida na Terra era no passado, a partir deles sabemos que os dinossauros existiram e dominaram a Terra por cerca de 135 milhões de anos. Também nos mostram que a cerca de 500 milhões de ano atrás ocorreu um grande evento de surgimento de novas espécies de animais, conhecido como explosão do Cambriano. Se os fósseis são os restos de seres vivos que viveram no passado, o que aconteceu para eles serem extintos? A origem de novas espécies e a extinção de outras são processos que nos ajudam a entender a evolução e seus mecanismos. Hoje em dia sabemos que os dinossauros foram extintos devido o impacto de um meteoro que causou uma explosão gigantesca e levantou uma nuvem de poeira suficiente para impedir que os raios solares aquecessem a Terra. Essas mudanças no ambiente causaram a morte e extinção de várias espécies de dinossauros, ou seja, eles não estavam adaptados a essa nova condição que surgiu.

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“Não é uma mudançazinha climática que irá acabar conosco.”

Em compensação, os pequenos mamíferos que viviam em suas tocas sobreviveram a essa mudança e depois dominaram os ambientes terrestres, já que não havia mais dinossauros para comê-los. Alguns fósseis nos ajudam a entender quais foram os passos evolutivos para que exista uma espécie atualmente, por exemplo, as aves. Possuíamos pistas de que elas eram aparentadas de um grupo de dinossauros, mas não encontrávamos características semelhantes entre eles para justificar esse parentesco. Recentemente, encontramos fósseis de dinossauros que indicavam a presença de penas em suas asas, uma característica que as aves possuem atualmente. Com o passar do tempo fomos descobrindo outros fósseis de dinossauros que também possuíam penas, o que nos deu mais pistas de que esse parentesco é real.

4) Existem muitos seres vivos na Terra

Sim, existem muitos seres vivos na Terra. Eles são tantos que vários deles nós não conhecemos e provavelmente serão extintos antes de conhecermos. A vida na Terra surgiu a muito tempo, cerca de 3,5 bilhões de anos atrás quando a Terra ainda era muito quente, a água em sua superfície era pouca e não existia camada de ozônio para nos proteger da radiação solar. Essas primeiras formas de vida eram muito simples, uma única célula capaz de se dividir e gerar outras células.

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Bactérias. Onde elas vivem? Como se reproduzem? 😛

Mas pera aí! Como essa primeira forma de vida deu origem a tantos seres vivos diferentes? É ai que entra a evolução, de novo. Esses seres unicelulares começaram a sofrer mudanças, as tais das mutações que falei anteriormente, elas foram selecionadas pelo ambiente através da seleção natural, que também já foi citada no texto e com o passar de BILHÕES, isso mesmo, bilhões de anos, foram surgindo outras formas de vida. Esses seres começaram a formar colônias, algumas células foram se especializando, seres vivos se uniram formando um único ser e criando novos processos que modificaram o ambiente, surgiu a fotossíntese, as concentrações de gás oxigênio aumentaram, a camada de ozônio foi formada, surgiram os protozoários, as plantas, fungos, animais.

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Incrível como uma única célula pode ter dado origem a tantas coisas e isso nos mostra o porquê é importante entendermos evolução. E o que acho mais legal é que essas primeiras formas de vida continuam por ai, no fundo do mar, nas nuvens, no solo da floresta Amazônica e dentro de nós. Essas tais bactérias.

5) Seleção artificial

Estamos muito acostumados a conviver com animais domesticados, cachorros, gatos, vacas, ovelhas e vários outros. Mas você já parou para pensar como eles eram antes e como foi o processo de domesticação? Vamos utilizar o cachorro como exemplo. Todos nós sabemos que os cachorros são aparentados dos lobos e muitas vezes fazemos essa associação intuitivamente. A domesticação deles começou a cerca de 40 mil anos atrás por populações humanas em vários locais da Ásia, eles perceberam que os cachorros poderiam auxiliá-los em funções do dia-a-dia como na caça, defendendo o território de outros predadores e até mesmo como companhia (hoje essa é a principal função deles). Essas populações humanas começaram a priorizar cachorros que eram mais dóceis e confiáveis, os indivíduos pouco dóceis eram abandonados ou mortos. Com isso, fomos selecionando artificialmente os cachorros que possuíam as características que desejávamos.

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Diferentes raças de cachorro que selecionamos.

Os cachorros são um ótimo exemplo de seleção artificial porque são seres muito próximos de nós, mas existem vários outros seres vivos que selecionamos e que são extremamente importantes para nossa existência. Você já viu como uma espiga de milho nativa é? Ou como as bananas nativas (“da terra”) são? Ou que a couve, o brócolis, a couve-flor e o repolho são diferentes partes de uma mesmo ser vivo? Esse processo de seleção artificial somos nós selecionando as características de interesse de um ser vivo para o nosso consumo e isso é evolução, mas somos nós quem está fazendo, não a natureza.

6) A relação entre a evolução e os seres humanos

A primeira questão que devemos abordar quando falamos da relação entre evolução e espécie humana é que a evolução não é progressiva, ou seja, ela não tem um objetivo final de formar uma espécie superior ou qualquer coisa parecida. Sendo assim, a existência da espécie humana é apenas mais um fruto do processo evolutivo. O que nos coloca em igualdade com todas as outras espécies que existem ou já existiram.

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Árvore da vida com representantes dos principais seres vivos da Terra. Clique na imagem para vê-la maior e procure pelo Homo sapiens.

Durante nosso período de aprendizagem ouvimos muito a frase “o homem veio do macaco” e se você procurar na internet, o que mais vai encontrar são pessoas perguntando, “se o homem veio do macaco, porque os macacos não continuam virando homens?”, algo assim. A questão é que nós não viemos dos macacos, nós somos macacos. Chimpanzés, gorilas, bonobos são nossas espécies irmãs (ou grupos irmãos), eles são espécies que compartilham características e ancestrais comuns conosco.

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Primos!! Quanto tempo…

7) A evolução unifica a biologia

Por fim, a evolução unifica toda a biologia. Podemos dizer que a Teoria da Evolução está para nós assim como as Leis de Newton ou a Lei da Gravidade está para os físicos. Como disse o velho Theodore Dobzhansky, “nada na biologia faz sentido, exceto à luz da evolução”. É clichê, mas é muito legal!

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Yeah evolution!

Vamos pensar na vida em todas as escalas possíveis, desde a molécula mais básica do DNA, genes, alelos, cromossomos, indivíduos, espécies, conjuntos de indivíduos, conjuntos de espécies até todos os seres vivos da Terra, a evolução estará presente e será fundamental em TODAS as escalas.

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Representação de uma molécula de DNA.

Isso mesmo, todas. Não faz o menor sentido estudarmos como é a morfologia da concha do caramujo e saber que ela sofreu um processo de torção se não entendermos evolução e conseguirmos responder os porquês dessa torção ter acontecido. Não faz sentido sabermos que bactérias mutantes assassinas estão surgindo se não entendermos o processo de mutação que a tornou um patógeno humano em potencial. Não faz sentido sabermos que durante o processo de gametogênese as espermatogônias vão crescer e virar espermatócito I, os espermatócitos vão sofrer meiose e virar o espermatócito II, esses vão duplicar e virar as espermátides e depois os espermatozoides, se não soubermos evolução.

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Mais formas de vida. Um tardígrado.

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Um poliqueta bioluminescente que vive no fundo do mar.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais informações:

EXISTE PERIGO NA VACINA? | Nerdologia 30
Vacinas valem a pena? | Canal do Pirula
A era dos dinossauros – Nerdcast 398
Dragões de Garagem #15 Domínios da Vida
Árvore da vida: aonde colocamos os eucariotos?
Vírus, Bactérias e Macacos – Nerdcast 283

Foto criada em 2013-06-04 às 14.36 #3

 

Luciano é co-criador do podcast Dragões de Garagem. Não tenho mais preocupações com o mestrado, mas em compensação agora tenho uma empresa (Hexapoda).