Fazer faculdade garante emprego?

Dados levantados pelo IBGE mostraram que o número de pessoas com faculdade

sem emprego dobrou

Luciano Queiroz

O número de pessoas com faculdade e sem emprego ou em empregos precários dobrou. É o que apontam dados levantados pelo IBGE e apresentados pela Folha na matéria escrita pela Érica Fraga e Arthur Cagliari.

A matéria ainda traz uma série de informações interessantes, como por exemplo a constatação de que “a fatia da população com ensino superior completo que está desempregada, desalentada ou trabalhando menos horas do que gostaria saltou de 930 mil para quase 2,5 milhões entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período deste ano”.

Você já deve ter visto alguma propaganda na TV dizendo “faça um curso superior na universidade X e tenha emprego garantido”. Há algum tempo isso poderia ser verdade, ter curso superior era um diferencial importante. Hoje em dia, por mais que as propagandas continuam insistindo em prometer máxima empregabilidade, as coisas mudaram bastante e isso é muito preocupante.

O aumento no número de pessoas formadas em universidades ocorreu graças às políticas públicas de inserção da população nas instituições de ensino superior públicas e privadas. Programas como PROUNI, REUNI e FIES, considerados relativamente bem sucedidos, a despeito de problemas eventuais. Entretanto, o mercado não acompanhou esse aumento da capacitação de uma parcela considerável da população.

Primeiro, porque a nossa economia desacelerou, entramos em uma grave crise e, consequentemente, a oferta de empregos caiu. É interessante pensarmos no fenômeno recente que aconteceu no Brasil de migração da população trabalhadora do setor industrial para o setor de serviços. Sem dúvida, o setor de serviços é o que mais emprega no Brasil,e  muitos desses empregos exigem baixa escolaridade, oferecem salários baixos ou são empregos sem carteira assinada.

O segundo ponto está relacionado à pouca demanda do mercado brasileiro por profissionais especializados. Um bom exemplo é o grande contingente de mestres e doutores sem inserção no mercado de trabalho que acabam indo para o setor de serviços como vendedores de lojas, call-center e tantos outros. São poucas as empresas que irão contratar um biólogo doutor em microbiologia e especialista em interações entre bactérias e vírus (eu mesmo).

Temos um grande número de pessoas desempregadas com faculdade, aceitando empregos com baixa remuneração ou altamente precarizados. Nossos governos têm a obrigação de pensar e executar políticas públicas para solucionar esse problema e isso com certeza passará por um aumento nos investimentos do Governo Federal.

Muitas dessas pessoas estão desistindo de procurar emprego, mudando de área ou deixando o país – que é o caso de muitos cientistas formados aqui e exportados gratuitamente para universidades do exterior.

Você provavelmente conhece alguém nesta situação.

Agradecimentos: Ana Fontenelle, Ana Paula Frazão, Lucas Rodrigues e Wagner Artur pela leitura crítica do texto.